Iniciar em um novo mercado de trabalho é uma tarefa difícil que necessita extensa capacitação e preparo. Na área farmacêutica, com mais de 100 especialidades de atuação, investir em um ramo diferente gera dúvidas quanto à legislação, procedimentos e atividade profissional, por exemplo. Por conta disso, a Diretoria do CRF-PR preparou um inovador evento com o tema “Como Eu Faço” para mostrar o dia a dia de farmacêuticos referências em áreas específicas de atuação.
O Meeting Farmacêutico Muito Mais, organizado como uma celebração ao Dia Nacional do Farmacêutico, comemorado em 20 de janeiro, aconteceu em Curitiba no último dia 25. O auditório da sede do CRF-PR foi lotado por farmacêuticos e acadêmicos de Farmácia em busca de conhecimento, além da participação ativa de mais de mil espectadores via transmissão on-line, uma alternativa tecnológica para repercutir o evento em todos os cantos do Paraná.
“Fico muito feliz em ver a casa cheia. O Meeting Farmacêutico Muito Mais foi construído a partir do resultado do questionário ‘Farmacêutico Solte Sua Voz’, encaminhado aos profissionais no ano passado, no qual pudemos elencar os assuntos de maior interesse profissional e convidar palestrantes renomados para tirar dúvidas e apresentar o passo a passo de como fazer”, destacou a Presidente do CRF-PR, Dra. Mirian Ramos Fiorentin, sobre a organização do evento. A dirigente do Conselho ainda divulgou a campanha publicitária do CRF-PR “Farmacêutico Muito Mais” que trabalha com paradigmas da profissão consolidados no imaginário popular. “Normalmente pensam que somos apenas entregadores de caixinhas. Precisamos mostrar que possuímos diversas áreas de atuação e somos fundamentais à saúde da população”, ressaltou a Dra. Mirian. Dra. Nádia Maria Celuppi Ribeiro – Diretora Secretária-Geral, Dra. Marisol Dominguez Muro – Conselheira e o Coordenador Técnico Científico do Conselho Federal de Farmácia, Dr. José Luis Miranda Maldonado também marcaram presença no evento.
Consultório Farmacêutico
A primeira palestra do dia ficou sob responsabilidade do Dr. Kauê Cézar Sá Justo, doutorando em Farmacologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) com ampla experiência em Farmácia Clínica. Em sua aula, Dr. Kauê abordou sua prática profissional e como consolidou um consultório farmacêutico no interior do Estado de Mato Grosso do Sul. “Precisamos entender que nada é firmado do dia para a noite. É preciso trabalhar muito e mudar o imaginário popular, mostrando que o seu papel como farmacêutico clínico é mais uma soma para o atendimento personalizado em uma equipe multiprofissional da saúde”, destacou o palestrante.
Os assuntos apresentados passaram por legislações, dicas de empreendedorismo, avaliação sobre pontos fortes, fraquezas, oportunidades e ameaças, capacitação contínua e serviços que o farmacêutico pode oferecer em seu consultório. “O reconhecimento aparece com o tempo. Faça um bom serviço, não tenha pressa e lembre que a Farmácia Clínica não é status, é ação”, ressaltou Dr. Kauê ao final de sua palestra.
Prescrição Farmacêutica
Coordenador de tutoria e professor do projeto “Cuidados Farmacêuticos” do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Dr. Wallace Entringer Bottacin ministrou a segunda palestra do dia sobre um dos assuntos que mais geram dúvidas entre os profissionais: a prescrição farmacêutica. Por ser uma atividade que ainda conta com certo receio de aplicabilidade no dia a dia, Dr. Wallace apresentou todas as legislações que regulamentam o serviço e informações sobre o que pode e não ser feito por um farmacêutico.
“O papel do farmacêutico é oferecer a possibilidade do que o paciente pode fazer para tratar o seu problema de saúde autolimitado, aquele com começo, meio e fim e que seria resolvido naturalmente com o tempo. Outros problemas de saúde devem ser encaminhados a profissionais especializados”, salientou Dr. Wallace. Além do mais, segundo o palestrante, a prescrição farmacêutica ajuda a diminuir a automedicação, avaliando riscos e benefícios, interações medicamentosas, sobredose e subdose, além de medicamentos inapropriados, duplicados e desnecessários, sendo benéfica à saúde do paciente. “A prescrição farmacêutica não é um produto ou serviço. Ela é um ato que auxilia na prestação de serviços clínicos de qualidade à população”, finalizou Dr. Wallace.
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
Acupuntura, medicina tradicional chinesa, fitoterapia, crenoterapia, antroposofia, floralterapia e homeopatia são possibilidades de atividade profissional farmacêutica, firmadas por Resoluções do Conselho Federal de Farmácia. A partir disso, Dra. Carla Mayumi Matsue, membro do Grupo Técnico de Trabalho de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) do CRF-PR, profissional com amplo conhecimento e atuação no segmento, ministrou palestra sobre como iniciar a atuação farmacêutica nas PICS.
A aula evidenciou aspectos legais e regulatórios, especialidades de atuação, habilitações e serviços que podem ser oferecidos por farmacêuticos e até mesmo dicas sobre planos de negócios para um empreendimento bem-sucedido comercialmente. Sobre a acupuntura e medicina tradicional chinesa, suas especialidades, Dra. Carla apresentou os preceitos que englobam as práticas, como forma de enxergar a doença, exames de rotina e trabalho contínuo que envolve tratamento integral, avaliação dos hábitos de vida e estudo prévio sobre teorias para avaliação de diagnósticos. “As PICS são áreas muito receptivas para os conhecimentos do farmacêutico. Com os estudos e habilitações necessárias, o profissional é capaz de oferecer à população mais opções para tratamento preventivo das enfermidades”, acentuou Dra. Carla Matsue.
Atendimento no Leito
A primeira palestra do período da tarde foi ministrada pela Dra. Greyzel Emília Silva Alice Benke, Conselheira do CRF-PR e Chefe da Farmácia do Hospital Vita Batel em Curitiba. Referência nacional em interação medicamentosa e prescrição farmacêutica, a instituição apresenta uma Farmácia Hospitalar consolidada e estabelecida, portanto, é exemplo para outros hospitais e profissionais. Dra. Grezeyl apresentou aos participantes do Meeting Farmacêutico Muito Mais o passo a passo de como instaurou a presença do farmacêutico no atendimento no leito e o respeito que esse profissional conquistou dentro da equipe multiprofissional da saúde.
“Nas visitas ao paciente à beira leito, o farmacêutico tem um contato direto e pessoal com o paciente ou sua família. Portanto, precisa oferecer o máximo de empatia e demostrar a sua importância naquele momento. O farmacêutico já vai com uma análise prévia do prontuário para saber informações fundamentais sobre o tratamento. Assim, consegue realizar uma anamnese para confirmar a medicação prescrita pelo médico”. Com auxílio das estagiárias, Anna Luiza Lisboa e Julya de Paula El-Husseini, do curso de Farmácia do Hospital Vita Batel, Dra. Greyzel exemplificou como o papel do farmacêutico é entendido e aceito pelos outros profissionais da saúde dentro da instituição, que cada vez mais contam com as informações obtidas para juntos prestarem o melhor atendimento possível ao paciente.
Interações Medicamentosas
A análise das interações medicamentosas é essencial para a eficiência do tratamento farmacológico e para evitar prejuízos à saúde gerados pelo uso de medicamentos. Por ser um assunto de extrema relevância e envolver os fármacos, maior campo de estudo nas graduações em Farmácia, Dra. Aline de Fátima Bonetti, doutoranda pela UFPR e professora substituta de Atenção Farmacêutica na mesma instituição de ensino, foi convidada para apresentar casos clínicos sobre possíveis interações de pacientes polimedicados durante o evento.
Antes de iniciar os exemplos, Dra. Aline alertou os participantes sobre o fato que sempre haverá interação medicamentosa, já que “tudo interage com tudo”. Por conta disso, é necessário analisar o nível dessas relações. Para ter uma assertividade maior e acesso aos estudos recentes, os farmacêuticos devem utilizar plataformas de fonte de consulta de medicamentos para avaliar as associações. Com esse recurso tecnológico, o profissional fica habilitado a saber exatamente as possíveis interações e suas consequências à saúde do paciente.
Dra. Aline passou dicas de como os farmacêuticos devem proceder em casos de interação. Primeiro é preciso verificar se ela é contraindicada. Se sim, será necessária uma conversa com o médico prescritor. Se a interação for grave, ela pode ser ajustada se os sintomas descritos estiverem acontecendo com o paciente. Se não, deve-se verificar a possibilidade de um medicamento mais seguro e, se não houver, a probabilidade do paciente ficar sem a medicação. Se a negativa continuar, só resta ao farmacêutico o monitoramento do caso, realizando consultas e exames constantes para averiguação da situação. “Na maioria das interações medicamentosas apenas monitoramos e não realizamos intervenção. Porém, cada caso tem sua especialidade e deve ser tratado de forma singular”, alertou Dra. Aline aos participantes.
Vacinas
O farmacêutico é o profissional da saúde que está inserido em todo o processo da imunização. Dr. Matheus Lima Chiuratto, membro da Célula Farmacêutica de Imunização Humana do CRF-PR e proprietário de uma clínica de vacinação na região metropolitana de Curitiba, vive o dia a dia e constata a importância da atuação do farmacêutico. “Nosso papel envolve a pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas, transporte, armazenamento, qualificação de fornecedores, calibração de equipamentos (câmara fria e termômetros), aplicação, descarte de resíduos e acompanhamento pós-vacinal dos possíveis eventos adversos”, reforçou.
Em sua participação no Meeting Farmacêutico Muito Mais, Dr. Matheus apresentou legislações que regem a atuação do farmacêutico e questões burocráticas que devem ser realizadas para a abertura de uma clínica de imunização humana, como capacitação, apostilamento no Conselho Profissional, abertura de Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), contrato social, projeto arquitetônico, criação do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), entre outros. Além disso, Dr. Matheus finalizou o evento destacando todas as atribuições do farmacêutico que trabalha com vacinas, envolvendo desde orientação farmacêutica, quando necessária, até dispensação obrigatoriamente vinculada a aplicação.