Hospital Universitário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) conta com assistência farmacêutica integral e equipe exclusiva para a Unidade de Terapia Intensiva
Pacientes em cuidado intensivo encontram-se em estado grave, recebendo grande número de medicamentos e intervenções, consomem cerca de 30% dos recursos financeiros do hospital. Com o envelhecimento da população, maiores demandas nos serviços de terapia intensiva devem ocorrer. Como resultado destas pressões clínicas, econômicas e sociais, a atuação do farmacêutico na equipe multidisciplinar de cuidado ao paciente crítico é fundamental.
As ações farmacêuticas no cuidado intensivo evoluíram mundialmente nas últimas décadas. Houve uma transição da posição tradicional de supervisão da produção e dispensação de medicamentos para a participação em tempo integral da equipe multidisciplinar de cuidado à beira do leito.
O ambiente de uma Unidade de Terapia Intensiva é complexo e exige a atuação de diversos profissionais de saúde, com diferentes formações e conhecimentos específicos. A participação do farmacêutico nesse trabalho conjunto é essencial para garantir o cuidado integral dos pacientes. Sua atuação reduz a mortalidade, duração de internação e alta da UTI, monitorando e estabelecendo protocolos para administração de fármacos-alvo, como, por exemplo, os utilizados na sedação e analgesia (medicamentos de alto risco), além de realizar acompanhamento farmacoterapêutico, reduzindo custos e melhorando desfechos. Isso sem falar de sua função como profissional clínico, administrativo, educador e pesquisador.
Os farmacêuticos intensivistas ou que atuam em terapias intensivas em estabelecimentos hospitalares precisam ser altamente qualificados. Esses profissionais acumulam prática e um diverso cabedal de conhecimentos técnicos e científicos postos em favor da vida dos pacientes. Mas quem é e o que faz um intensivista? As respostas vêm da equipe de farmacêuticos do Hospital Universitário da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG.) Atualmente, o hospital conta com 92 profissionais atuando nas UTIs Adulto. Destes, dois são farmacêuticos, que contam com o suporte dos farmacêuticos residentes do Programa de Pós-Graduação em Residência Multiprofissional em Intensivismo da UEPG. A “O Farmacêutico em Revista” conta um pouco sobre o dia a dia desses profissionais. Confira:
ENTREVISTA
Quais as principais atividades realizadas pelo farmacêutico na UTI?
Dra. Thais - Os farmacêuticos fazem o acompanhamento das visitas multiprofissionais, avaliação das prescrições, conferência dos medicamentos necessários e contato com a equipe para adequações e ajustes necessários nas prescrições. Além de atuarem em toda a cadeia do medicamento dentro da UTI.
Como o trabalho do farmacêutico contribui para a segurança do paciente e para a racionalização dos gastos neste ambiente?
Dra. Thais - Na UTI, o farmacêutico tem a possibilidade de perceber as dúvidas da equipe, pela proximidade. Assim, o trabalho do farmacêutico nesse ambiente permite que se otimize os tratamentos, direcione
prescrições específicas, auxilie na diluição de medicamentos e otimize custos. Para a segurança do paciente, as prescrições são avaliadas e passam por conferência com dupla checagem, por profissionais da Farmácia e da Enfermagem. A otimização dos custos passa tanto pela diminuição de custos diretos com medicamentos quanto pela diminuição do tempo de internamento dos pacientes, o que traz benefícios a todos.
Como é a rotina do farmacêutico que atua na UTI do HU/UEPG?
Dr. Sinvaldo - Pela manhã, são feitas as visitas multiprofissionais que incluem profissionais de diversas áreas. É a oportunidade de discussão sobre cada paciente internado na UTI, com as considerações a serem
feitas a fim de proporcionar o melhor atendimento possível. É um grande benefício ao paciente, mas também uma excelente oportunidade de aprofundar conhecimentos e interatividade para o farmacêutico com
os demais profissionais.
Dra. Thais - No período da tarde ocorre a avaliação e conferência das prescrições. A todo tempo, acontece intervenções em prescrições, medicações via sonda, reconstituição, diluição, entre outras atividades ligadas à assistência farmacêutica ao paciente internado.
Poderia mencionar um exemplo prático de como a intervenção farmacêutica contribuiu para uma melhor qualidade no atendimento ao paciente?
Dra. Thais - O caso dos pacientes com disfunção renal é o exemplo mais marcante da diferença que faz a intervenção farmacêutica na UTI do HU/UEPG. É feito o acompanhamento de exames, hemodiálises e a verificação da necessidade de doses diferenciadas caso a caso, entre outras intervenções.
Como é o relacionamento de trabalho com os demais profissionais?
Dra. Thais - A equipe de trabalho da UTI é bastante aberta ao diálogo com os profissionais farmacêuticos. Desde o início, houve receptividade da equipe às intervenções, sugestões e discussões de casos, até por considerar que a atuação do farmacêutico facilita o trabalho na UTI dos demais profissionais.
Quais habilidades e conhecimentos devem ser aprimorados por quem deseja atuar nesta área?
Dr. Sinvaldo - É preciso que haja uma formação de base forte em Farmácia Hospitalar específica e constante atualização para a atuação no tratamento intensivo. As residências voltadas à área hospitalar e especificamente no Intensivismo permitem que o farmacêutico desenvolva o olhar diferenciado para o paciente atendido na UTI. Um exemplo de sucesso na formação específica, aqui no HU é a Dra. Thais [de Oliveira Borsato], que cursou a graduação em Farmácia na UEPG, fez a residência em intensivismo nesta instituição e, em seguida, passou a atuar como profissional na UTI do HU. Essa formação específica e continuada permitiu a inserção nesse campo de atuação. Nossos farmacêuticos são estimulados a participar de atualizações, cursos, congressos e treinamentos, visitas técnicas focados aos propósitos da UTI, bem como nas diversas atividades do Serviço de Farmácia Hospitalar e notadamente em segurança do paciente. Contamos com farmacêuticos experientes, o que para o serviço é de extrema importância, mas, sobretudo profissionais que se mantém atualizados. A Farmácia Hospitalar exige formação continuada e estudo o tempo todo e ainda o uso de plataformas digitais de informações.
Dra. Thais - O trabalho na UTI faz com que o farmacêutico mude o olhar técnico, sobre medicamentos, para um olhar clínico, que humaniza o atendimento. O trabalho com pacientes em tratamento intensivo tem algumas particularidades. Por exemplo, há o cuidado com a disfunção renal, a sedação e o trabalho com o mnemônico FASTHUG, que sistematiza a avaliação do paciente.
O HU/UEPG também é reconhecido pela sua assistência farmacêutica integral. Quais são as principais atividades do farmacêutico dentro do hospital?
Dra. Rosana - Os farmacêuticos são responsáveis por todo o caminho que o medicamento percorre no hospital, atuando em todas as etapas. O profissional farmacêutico faz o planejamento do elenco de medicamentos, aquisição, armazenamento, unitarização, distribuição e dispensação, além de orientações técnicas e avaliação das prescrições médicas. Todas as prescrições médicas no HU passam por uma avaliação técnica e clínica da equipe de farmacêuticos e todas as doses dispensadas são conferidas por um profissional farmacêutico e por um profissional de enfermagem. No HU, trabalha-se com a dispensação de doses individualizadas, por paciente e por horário.
Dra. Carolina - No setor de serviços clínicos, os farmacêuticos realizam diversas atividades, como a conciliação de medicamentos, com a elaboração de listas de medicamentos utilizados anteriormente pelo paciente nos prontuários; farmacovigilância, com a prevenção e investigação de incidentes relacionados a medicamentos; e acompanhamento de pacientes em uso de Vancomicina, para reduzir o índice de reações adversas. Os residentes da segunda turma (R2) atuam nesse setor.
Dra. Vivian - Outro setor em que atuam os farmacêuticos no HU é no fracionamento de sólidos e líquidos não estéreis. Os medicamentos são dispensados na dose correta para o paciente, individualizada e de acordo com peso e idade. Essa atuação é especialmente importante para os pacientes pediátricos e neonatologia. Na equipe multidisciplinar de terapia nutricional, os farmacêuticos têm uma atuação específica na avaliação de prescrições feitas pelos nutricionistas, guarda e dispensação da alimentação parenteral e enteral.
Dr. Júlio - Dentro da Farmácia Hospitalar, os farmacêuticos atuam ainda na logística. É feito o planejamento de compra dos medicamentos, pensando tanto no quantitativo quanto na entrega e armazenamento. É preciso fazer uma previsão correta de quantidades, com uma margem segura para garantir o atendimento sem sobrecarregar o setor de armazenamento. Além disso, há o cuidado com o armazenamento adequado, tanto na forma de estocagem quanto com questões ambientais, de temperatura e umidade.
Quantos farmacêuticos trabalham no hospital atualmente?
Dr. Sinvaldo - No Setor de Farmácia são nove farmacêuticos contratados para 24 horas. Contamos ainda com os farmacêuticos plantonistas que atuam fortalecendo o sistema. E mais doze farmacêuticos residentes: sete R2 e cinco R1 dos Programas Multiprofissionais de Saúde do Idoso, Intensivismo, Neonatologia, Urgência e Emergência.
Depois que vocês passaram a ter o profissional 24 horas dentro do hospital, quais as melhorias identificadas?
Dr. Sinvaldo - Antes da assistência integral, cerca de 20% das prescrições não eram avaliadas pela equipe farmacêutica. A falta desta atuação poderia gerar riscos potenciais. Hoje, 100% das prescrições são avaliadas e conferidas com intervenções no momento exato para ocorrer, gerando segurança ao paciente. Este é um dos principais fundamentos para o farmacêutico atuar 24 horas no hospital. Importantíssimo e necessário.
Dra. Rosana - A assistência farmacêutica integral gera muito mais segurança para o paciente e rapidez no atendimento. Além disso, promove a fluidez dos processos internos que antes poderiam ficar parados e se acumulavam para o período em que havia farmacêutico. Ele é essencial para a garantia da segurança do paciente internado, minimizando possíveis erros de prescrição, dispensação e administração de medicamentos.
Leia mais na 128ª edição da "O Farmacêutico em Revista". Acesse!