Há 93 anos, nascia em Curitiba uma instituição de acolhimento a pessoas em condições de risco e vulnerabilidade social. Inicialmente chamado de Lar de Mendicância, o Asilo São Vicente de Paulo abriga hoje 150 idosas com graus diferenciados de dependência e que demandam cuidados específicos. Mas, no início, em determinados períodos, chegou a ter mais de 400 pessoas, entre homens, mulheres e meninas. As instalações passaram por reformas e ampliações ao longo dos anos e em 1967, a instituição focou suas atividades apenas ao público feminino. Então, os homens foram transferidos para o Recanto do Tarumã e, em 1969, as meninas foram encaminhadas para o Lar Yvone Pimentel. Com o sancionamento do Estatudo do Idoso, em 2003, os asilos ganharam o status de Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
Os números que a entidade acumulou em quase um século de atuação são robustos, muitos dados se perderam com o passar do tempo e outros são imensuráveis. Mas a missão de promover dignidade, respeito e qualidade de vida à pessoa idosa está enraizada em tudo que a instituição promove e, além de uma equipe multiprofissional, entre médicos, enfermeiros, técnicos, assistente social e muitos outros colaboradores totalmente comprometidos, o farmacêutico tem papel fundamental na garantia desses direitos. A farmacêutica Maristela Granza Brandalise, responsável pela Farmácia do Asilo há pouco mais de
um ano, é apaixonada pelo que faz e conta que atuar na instituição é uma forma de colocar o conhecimento e o trabalho em função de uma causa muito maior. “Gosto da sensação de não trabalhar só pelo dinheiro, mas para cuidar da saúde de alguém e exercer meu juramento como farmacêutica”, avalia. O Asilo São Vicente de Paulo, uma unidade de atendimento da política de Assistência Social, tipificado como ILPI, é referência nacional no atendimento à pessoa idosa. No local, as moradoras têm acesso a todos os cuidados diários necessários: assistência médica, odontológica, psicológica e nutricional, fisioterapia, atividades de lazer e diversas oficinas de estimulação motora e cognitiva como artesanato, consciência corporal, alfabetização, além de uma agenda social que estimula a convivência comunitária e familiar. E toda essa gama de cuidados vem atrelada ao atendimento humanizado, incentivando a autonomia e respeitando a individualidade das idosas.
Farmácia
A Farmácia do Asilo está estruturada e segue o que preconiza a Lei 13.021/2014. Como possui mais de 50 leitos, conta com a presença de um farmacêutico durante todo o período comercial. Com o desenvolvimento do trabalho do setor da Farmácia ao longo dos anos, Dra. Maristela conta que foi possível reduzir problemas relacionados a medicamentos, identificação de reações adversas, diminuição de custos e internamentos e ainda promover o uso racional. “O medicamento exige muita atenção e precisa do olhar do farmacêutico para garantir a qualidade. Se não existisse um profissional dentro da instituição, talvez a medicação não seria entregue nos horários corretos e não haveria a percepção de alguma interação medicamentosa”, destacou.
Dra. Maristela também é a responsável por supervisionar todo o fracionamento e a correta dispensação dos medicamentos de acordo com as necessidades específicas de cada moradora, garantindo orientação adequada e diminuindo os riscos associados à terapêutica medicamentosa, além de realizar uma rigorosa triagem dos medicamentos e materiais doados para o asilo. “As doações que não são aproveitadas, são repassadas para outras ONGs e instituições. Nenhum medicamento é desperdiçado”, conta.
A segurança na hora da dispensação dos medicamentos é outro ponto de atenção máxima dos profissionais. De acordo com a Dra. Maristela, o cuidado com as idosas é personalizado e várias estratégias de gestão do medicamento são adotadas para monitorar todas as operações ocorridas, desde a prescrição até a checagem no quarto da idosa. “Desta forma, é possível verificar se a medicação que chegou para aquela moradora é a mesma que foi prescrita pelo médico e dispensada pela Farmácia, na dosagem e horários corretos. As intercorrências relacionadas aos medicamentos devem ser evitadas ao máximo”, pondera. “Tudo é fracionado, a embalagem é selada, identificada com o nome da idosa, lote e validade”, continuou.
A farmacêutica ainda responde por todo o ciclo do medicamento, desde a solicitação até a dispensação. “Quando ocorre o pedido de compra checo todas as informações. Se o medicamento é doação, faço a triagem e analiso as condições dos medicamentos. Caso seja inviável a utilização, realizamos o correto descarte”. A farmácia é estruturada da seguinte maneira: uma farmacêutica, três auxiliares e uma menor
aprendiz. Seu funcionamento é de segunda a sexta, em horário comercial. Nos finais de semana e outros horários, a dispensação de medicamentos não funciona. “Há uma ‘caixa de emergência’ pela enfermeira, que realiza a dispensação conforme as prescrições médicas, caso seja necessário. Toda a medicação desse período é previamente separada”.
Estudos de caso
Faz parte da rotina da equipe multiprofissional, toda segunda-feira, realizar estudos de casos. São três moradoras por vez, onde a equipe analisa os prontuários das idosas em questão e discutem as melhores alternativas para o acolhimento. “É um olhar individualizado para cada idosa, identificando condutas medicamentosas. O acompanhamento farmacêutico é fundamental, após a análise das prescrições, verificamos a melhor forma de uso e se, de fato, as intervenções feitas estão tendo o resultado esperado”, relata Dra. Maristela.
"Farmacêutica cuidadora"
“Não é possível não nos envolvermos emocionalmente com as idosas, uma vez que convivemos diariamente com elas. Respeitamos suas particularidades e procuramos trabalhar de humanizada e ética para proporcionar conforto e qualidade de vida durante todo o tempo conosco”, menciona Dra. Maristela, emocionada ao recordar as idosas que passaram em sua vida profissional e faleceram recentemente. Dra. Maristela ainda expõe a necessidade de mais “farmacêuticos cuidadores” em instituições de longa permanência para idosos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população acima de 60 anos deve dobrar até 2042. Portanto, o número de idosos que podem precisar de auxílio nos próximos anos deve crescer consideravelmente.
Como contribuir?
O Asilo São Vicente de Paulo aceita doações financeiras e/ou materiais. Acesse: www.asilosaovicente.org.br
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