Através do projeto CRF-PR Júnior, jovens acadêmicos de Farmácia usam seus conhecimentos
teórico-práticos para auxiliar no cuidado à saúde de idosos em Londrina
Há quase uma década, o CRF-PR Júnior transforma a visão dos acadêmicos sobre a profissão farmacêutica. Surgiu da necessidade de estreitar a relação entre o Conselho e os estudantes, buscando incentivar os futuros farmacêuticos à prática do exercício profissional responsável através de ações que valorizam a profissão em todas as suas áreas de atuação.
Entretanto, engana-se quem pensa que o alcance do projeto é limitado aos estudantes de Farmácia das instituições de ensino do Paraná. Por meio do voluntariado dos jovens baseado em condutas éticas e responsáveis, a sociedade é a principal beneficiada, tanto no presente, através de ações, campanhas e palestras, quanto no futuro, com a formação de farmacêuticos mais preparados para cuidar da saúde dos cidadãos.
Um exemplo do sucesso do CRF-PR Júnior é a atuação do projeto dentro da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Liderados pela professora Dra. Graziela Scalianti Ceravolo, os acadêmicos perceberam sozinhos uma necessidade da atuação do farmacêutico dentro de um segmento que, muitas vezes, pode ser considerado incomum: instituições de longa permanência para idosos (ILPIs).
O envelhecimento populacional está ocorrendo junto com grandes mudanças sociais, culturais, econômicas e institucionais. Para o futuro próximo, espera-se um crescimento elevado das taxas da população muito idosa (80 anos e mais), como resultado dos altos índices de natalidade observados no passado recente e da continuação da redução da mortalidade nas idades avançadas. Embora a legislação brasileira estabelecer que o respaldo dos membros dependentes deve ser responsabilidade das famílias, torna-se cada vez mais comum a procura por alternativas de cuidados não-familiares. Para a Anvisa, ILPIs são instituições governamentais ou não-governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania.
A atuação do farmacêutico nas ILPIs é necessária, preconizada pela Portaria 810/89 do Ministério da Saúde. Apesar da indispensabilidade, muitas instituições não contam com recursos financeiros para manter um profissional no seu quadro de funcionários. Foi esse quesito que chamou a atenção dos acadêmicos, percebendo que poderiam ajudar as ILPIs com os seus conhecimentos, os estudantes da UEL decidiram focar suas atividades no auxílio aos colaboradores atuantes do SESP Lar dos Vovôs e Vovozinhas de Londrina. A atividade foi tão bem-sucedida que virou artigo científico que será apresentado este ano em congressos da saúde.
Sem farmacêutico contratado, a instituição precisava lidar com a administração, preparo e armazenamento de medicamentos sem o conhecimento necessário. Por conta disso, os acadêmicos se dividiram em dois grupos: o primeiro responsável pela organização do dispensário e o segundo pela parte científica, fornecendo às enfermeiras e auxiliares palestras e orientações a respeito dos medicamentos. “É importante destacar que os acadêmicos têm papel ativo. São eles que averiguam as demandas de palestras, preparam e ministraram”, afirma Dra. Graziela, que fica responsável por garantir que o conteúdo apresentado aos funcionários está conceitualmente adequado e todas as dúvidas são sanadas. “Quanto à organização dos medicamentos, trabalhamos para adequar o ambiente às legislações vigentes. Para isso, os estudantes têm pesquisado estratégias e formas de organização que garantam a legislação, mas que também facilitem o trabalho dos profissionais”, destacou.
O farmacêutico, atuando em uma equipe multidisciplinar, pode contribuir com questões relativas à problemática dos medicamentos em idosos, monitorando os planos de tratamento e promovendo o uso de terapias custo-efetivas. “Alguns estudos internacionais destacam que os serviços farmacêuticos em ILPIs podem melhorar indicadores de saúde ao proteger contra piora da dor, reinternação hospitalar e número de quedas nos residentes. Assim, este profissional tem papel de grande importância nas ILPIs e é isso que tentamos mostrar para os acadêmicos”, frisou Dra. Graziela.
Esse tipo de projeto deixa o acadêmico praticar atividades relativas à profissão, aproximando mais da realidade profissional. Nesse caso, a atuação nas ILPIs forneceu aos estudantes uma visão crítica dos cenários de trabalhos atuais, permitindo o reconhecimento do impacto dos serviços farmacêuticos. A acadêmica Jennifer Rodrigues Lima relatou como a experiência mudou sua perspectiva da profissão. “Sair da sala da aula e aplicar a teoria na prática foi extraordinário. O CRF-PR Júnior proporcionou isso e me impactou positivamente em diversos quesitos. Agora sei como transmitir confiança, manter uma postura responsável e interagir com outros profissionais”, evidenciou. Já a acadêmica Rafaele Maria Tirolla destacou que o projeto do CRF-PR ajuda na formação de farmacêuticos humanizados, no qual os estudantes deixam as faculdades como uma mínima noção da verdadeira realidade da população. “Participar do projeto foi incrível. Foram muitas lições que levo para o meu futuro profissional, desde da abordagem de profissionais de diferentes áreas quanto ao aprendizado técnico. Acredito que crescemos muito profissionalmente e pessoalmente com o CRF-PR Júnior”, enfatizou.
Para a farmacêutica Maria Augusta Marcondes, Coordenadora Estadual do projeto CRF-PR Júnior, receber o retorno positivo que o projeto causa na vida dos acadêmicos é recompensador. “Nosso objetivo, desde
o início, não é apenas valorizar a profissão farmacêutica, mas construir uma sociedade com farmacêuticos capacitados para fortalecer o espírito de defesa da sociedade, meio ambiente e ética, bem como a proteção do ser humano”, destacou.
Confira na próxima página o resumo do artigo:
“Conciliamento estrutural de um dispensário de medicamentos em um lar de longa permanência para idosos”
Autores: Rafaele Maria Tirolla; Jennifer Rodrigues de Lima; Edmarlon Girotto; Roger Bruno Rodrigues; Juliana Diosti Debiasi; Nathália Cristine Florêncio; Valquires Godoy e Graziela Scaranti Ceravolo
A polifarmácia é um importante fator de risco para iatrogenias e reações adversas e está comumente presente na população idosa. Os idosos institucionalizados são considerados ainda com risco aumentado para polifarmácia, devido a baixa funcionalidade, fragilidade, e por apresentarem diversas doenças crônicas e limitantes. Desta forma, os idosos inseridos em instituições de longa permanência apresentam-se como uma população altamente vulnerável, pois não possuem autonomia quanto a administração de sua medicação, sendo dependentes da equipe de saúde da própria instituição para tal. Objetivos: Implantar uma adequada rotina relacionada à saúde e à administração de medicamentos em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Método: O trabalho foi realizado em uma ILPI, situada no município de Londrina - Paraná, por equipe vinculada ao Conselho Regional de Farmácia Junior (CRF-Jr) da Universidade Estadual de Londrina. O cenário da ILPI mostrava-se com a ausência de profissional farmacêutico na equipe de funcionários e dificuldades destes quanto ao manejo de medicamentos e demais aspectos relacionados à saúde dos idosos. A partir da identificação de demandas, utilizou-se a ferramenta do matriciamento no formato de um ciclo de palestras para educação continuada dos profissionais. Abordou-se como temáticas no ciclo: administração e armazenamento correto de medicamentos; interações medicamentosas; manejo de medicamentos sujeitos a controle especial; insulinoterapia e controle glicêmico; monitoramento de sinais vitais; aspectos relacionados à higiene; e gerenciamento de resíduos. Para avaliação do processo de matriciamento foi aplicado um questionário estruturado aos funcionários da instituição, com questões acerca das mudanças estruturais e de rotinas observados após a aplicação do método, com as opções “nada mudou”, “melhorou o serviço”, “piorou ou dificultou o serviço”. O projeto foi avaliado e aceito pela ILPI e está cadastrado como projeto de extensão na Universidade Estadual de Londrina. Resultados: Quanto à avaliação do conteúdo ministrado de educação continuada, a maioria dos participantes julgaram os temas abordados como “muito relevantes” e “relevantes” (50% e 46,2%, respectivamente). Quanto aos ministrantes, os mesmos foram avaliados pelo conhecimento dos conteúdos ministrados e quanto a capacidade de esclarecimento de dúvidas. Em ambos houve predominância da resposta “ótimo” (57,7% e 50,0%, respectivamente), sendo que a resposta “ruim” não foi citada. Quanto a autoavaliação, a maioria dos funcionários julgou sua participação como “bom” (80,8%), e da mesma forma, não houve resposta “ruim” assinalada para este questionamento. E em relação ao tempo de duração de cada capacitação, 73,1% julgou como “adequado”, e 26,9% respondeu que deveria ter mais tempo. Conclusões: Verificou-se que conhecimentos da formação farmacêutica podem agregar qualidade a rotina de uma ILPI, amenizando as dificuldades dos profissionais da instituição quanto ao uso correto de medicamentos e assim, aumentando a segurança para os idosos institucionalizados.
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