Notícia: Após sequenciamento genético, estudo da Fiocruz reforça que pernilongo pode transmitir zika

Publicado em 10 de ago. de 2017

Após sequenciamento genético, estudo da Fiocruz reforça que pernilongo pode transmitir zika


Após sequenciamento genético, estudo da Fiocruz reforça que pernilongo pode transmitir zika

Com a rápida expansão do zika em território brasileiro nos últimos anos, há um tempo pesquisas na Fiocruz tentam indicar se outros vetores -- além do Aedes aegypti -- são capazes de transmitir o vírus.

A desconfiança maior recaiu sobre o pernilongo Culex quinquefasciatus que, como o Aedes, é comum em áreas urbanas. A Fiocruz, então, foi investigar se o mosquito é capaz de transmitir o zika – e, agora, após o sequenciamento genético parcial do vírus encontrado no mosquito, pesquisadores afirmam que há dados consistentes capazes de sugerir que o Culex é transmissor do zika em Recife.

O estudo foi publicado nesta terça-feira (9) no "Emerging Microbes & Infections", publicação do grupo "Nature".

"No Recife, a população de Culex é maior que a do Aedes. A hipótese era que, se o pernilongo fosse um vetor, isso poderia explicar o porquê do zika ter se espalhado com relativa rapidez aqui e no Brasil", aponta Gabriel Wallau, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do artigo.

A Fiocruz já sequenciou genoma do zika coletado em humanos. O artigo foi publicado na revista "PLos" em 2016. Agora, a diferença foi que o vírus sequenciado foi obtido de mosquitos coletados em Pernambuco. Semelhanças entre os dois sequenciamentos se somam ao corpo de evidências de que o Culex tem potencial para ser um vetor.

Além disso, cientistas descreveram evidências microscópicas de que o vírus está se replicando na glândula salivar do Culex. Eles também identificaram várias sequencias genéticas do vírus em diferentes tecidos do mosquito com técnicas de biologia molecular.

“Se a gente comparar com todos os artigos que saíram sobre o assunto, esse é o artigo mais completo, com o maior número de evidências", diz Wallau.

O pesquisador aponta que é a primeira vez que se faz um sequenciamento genético do vírus a partir do Culex. O sequenciamento do Zika a partir do Aedes foi feito por um grupo nos Estados Unidos.

O achado pode influenciar políticas públicas voltadas para o controle do mosquito. A Fiocruz agora pretende mapear o comportamento do pernilongo no meio ambiente para entender se o Culex de fato tem o mesmo poder de transmissão que o Aedes.

Evidência anterior foi contraditória

Até agora, pesquisas sobre se o pernilongo seria um possível vetor do zika foram dúbias -- enquanto alguns estudos demonstraram que o Culex não transmite o vírus, um artigo recente publicado no mesmo periódico indicou que o pernilongo coletado em áreas urbanas da China foi infectado com cepas locais do vírus zika.

O pesquisador da Fiocruz explica que são muitas as razões para a inconsistência entre os estudos, e que diferenças na capacidade de um mosquito ser ou não vetor são comuns.

Uma das explicações para essa diferença é a grande variabilidade genética entre os mosquitos -- o que influencia na capacidade tanto do Culex como do Aedes serem vetores. "Sabemos que características genéticas podem bloquear a capacidade do mosquito transmitir o vírus."

Outro ponto são as diferenças geográficas. Alguns estudos coletaram Culex dos Estados Unidos, por exemplo, enquanto que os mosquitos do estudo da Fiocruz foram coletados em Recife.

O grupo da Fiocruz de Pernambuco tem grande conhecimento sobre o comportamento do Culex, já que, em Recife, há um problema de saúde pública com a filariose, também conhecida como elefantíase e transmitida pelo pernilongo. A filariose tem por característica o inchaço de peles e tecidos.

No Recife, já existe uma política pública de controle do Culex, que se multiplica em matéria orgânica. Uma das ações públicas para o controle do pernilongo é, por exemplo, um melhor manejamento do lixo orgânico na cidade.


Fonte: G1

topo