As atuais terapias antirretrovirais são capazes de conter a infecção por HIV, mantendo a carga viral indetectável, mas para isso é preciso empenho do paciente, que precisa tomar um comprimido diariamente. Um novo formato de tratamento pode facilitar a vida dos soropositivos, fornecendo as drogas com apenas uma injeção por mês.
— A observação do tratamento segue sendo um grande desafio na luta contra o HIV — afirmou David Margolis, envolvido no estudo publicado nesta segunda-feira na revista “Lancet” e apresentado na Conferência Internacional de Investigação sobre a Aids, que acontece em Paris, em entrevista à AFP.
Segundo o pesquisador, a interrupção do tratamento pode minar a eficácia dos medicamentos e favorece o surgimento de cepas resistentes do vírus. Uma injeção, com efeito prolongado, faz sentido para evitar esses problemas. No estudo, cientistas combinaram o medicamento cabotegravir, do laboratório ViiV Healthcare, filial da GSK, Pfizer e Shionogi; com a rilpivirina, da Johnson & Johnson, e alcançaram resultados semelhantes com os dos antirretrovirais em pílula.
Participaram do estudo 230 pacientes com carga viral indetectável, que receberam a injeção a cada quatro ou oito semanas, durante dois anos. No fim do período, 87% dos pacientes que receberam o medicamento a cada quatro semanas continuaram com a varga viral indetectável, e entre os que receberam a cada oito semanas o resultado foi ainda melhor: 97%.
Essas taxas são comparáveis com o grupo de controle, com 56 pacientes, dos quais 84% mantiveram a carga viral indetectável tomando as pílulas diárias. Para Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson, o tratamento de longo prazo “poderá oferecer uma alternativa eficaz e aceitável para as pessoas que alcançaram carga viral indetectável, mas que têm dificuldade para seguir o tratamento oral diário para controlar o HIV”.
Contudo, foram relatados alguns efeitos colaterais, com a maioria dos pacientes sofrendo dores no local da injeção, e alguns apresentaram diarreia ou dores de cabeça.
— Temos que escolher entre o conforto de não ter que seguir um tratamento oral diário e as desvantagens associadas com a terapia antirretroviral em injeção de ação prolongada, particularmente em países onde não há problemas de disponibilidade de pílulas — disse Mark Boyd, da Universidade de Adelaide, na Austrália.