Cientistas australianos desenvolveram um remédio que, ao imitar o sistema imunológico dos tubarões, pode ajudar a combater uma doença incurável de pulmão.
A pneumonia intersticial idiopática ou fibrose pulmonar idiopática (FPI) cicatriza o tecido pulmonar e faz com que o órgão perca sua elasticidade, levando a cada vez mais dificuldades para respirar.
O mal mata mais de 5 mil pessoas por ano só no Reino Unido, de acordo com a Fundação Britânica do Pulmão.
No Brasil, não há informações oficiais sobre o número de casos, mas a estimativa é que entre 13 mil e 18 mil pessoas tenham a doença - um dos grandes problemas para não haver registro dela é justamente a falta de diagnósticos, já que o problema se confunde com infecções corriqueiras por causa de seus sintomas comuns (especialmente em fumantes), que são principalmente cansaço e falta de fôlego.
O que os pesquisadores esperam agora é que esse novo remédio inspirado em anticorpos encontrados no sangue de tubarões possa começar a ser testado no ano que vem.
A droga se chama AD-115 e foi desenvolvida na Universidade La Trobe, de Melbourne, na Austrália por cientistas e pela empresa de biotecnologia AdAlta.
Os testes iniciais tiveram como alvo as células causadoras da fibrose, criando uma proteína humana que imitava os anticorpos encontrados nos tubarões, conforme explicou Mick Foley, do Instituto de Ciência Molecular de La Trobe.
"A fibrose é o resultado final de muitas feridas e lesões diferentes", disse à BBC. "Essa molécula pode matar as células que causam fibrose."
Enfraquecendo os sintomas
Os sintomas da doença incluem dificuldade para respirar, especialmente durante exercícios - algo que ganha uma piora constante com o tempo -, além de uma tosse persistente e seca.
Atualmente, não há cura para a FPI, então o tratamento é apenas focado na tentativa de aliviar os sintomas e conter a progressão do problema.
A Agência Americana de regulação sanitária (FDA, na sigla em inglês) determinou que o AD-114 seria uma "droga órfã" - algo que faz com que empresas que tenham interesse em encontrar o tratamento para a doença poderão ter isenção de impostos.
Foley, que também é cientista chefe da AdAlta, afirmou que a empresa arrecadou 6 milhões de libras (R$ 23 milhões) desde que suas ações entraram na Bolsa de Valores da Austrália.
A ideia é usar esse dinheiro para investir em testes humanos com a droga em 2018.
O remédio AD-114 não envolve injeções de sangue de tubarão, segundo os pesquisadores - já que o corpo humano imediatamente rejeitaria uma substância assim.
Outras utilidades
Em testes de laboratório, a droga também mostrou potencial para tratar outras formas de fibrose. Isso incluiria, por exemplo, pessoas sofrendo de doenças hepáticas ou problemas de degeneração da vista causados pela idade, conforme explicou Foley.
Ele acrescentou que nenhum tubarão foi prejudicado nesse processo. Uma amostra simples de sangue foi extraída de um tubarão da família Orectolobidae no Aquário de Melbourne.
"Seria muito interessante poder dizer um dia que 'essa pessoa está viva hoje por causa do que um tubarão nos contou um dia'."
Fonte: G1