Notícia: Pesquisa da USP busca medicamento para inibir vírus da zika no organismo

Publicado em 31 de jan. de 2017

Pesquisa da USP busca medicamento para inibir vírus da zika no organismo


Próxima fase é descobrir quais moléculas são capazes de torná-lo
Pesquisa da USP busca medicamento para inibir vírus da zika no organismo

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), campus de São Carlos, desenvolvem um medicamento para impedir a multiplicação do vírus da zika no organismo. A equipe já conseguiu identificar a estrutura da principal proteína do vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, e agora estuda quais moléculas são capazes de torná-lo inativo. Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadores utilizam uma substância presente no açafrão para matar as larvas.

No ano passado, o Aedes aegypti fez várias vítimas na região. Araras enfrentou uma epidemia de dengue, com 412 casos, e três ocorrências de chikungunya. Em Rio Claro, foram 91 casos de dengue e 10 de chikungunya. São Carlos registrou 458 casos de dengue e Araraquara teve 1.827 ocorrências da doença. Quatro pessoas tiveram chikungunya e 145 foram vítimas do zika.

Avanços

O trabalho da equipe do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar) da USP ainda está em fase inicial, mas já representa um avanço.

“Agora partimos para a etapa que vai ser muito longa, de encontrar moléculas que possam se encaixar nessa proteína para eventualmente bloquear o seu funcionamento. Há uma preocupação enorme em relação a essa doença, especialmente pelos seus inesperados e hoje devastadores impactos neurológicos”, disse o professor Glaucius Oliva, coordenador do CIBFar.

Análises

Partindo das informações do genoma do vírus, os pesquisadores utilizaram técnicas de modelagem digital para fazer previsões sobre a estrutura das proteínas que compõem o patógeno. A partir dos dez genes, eles chegaram a 16 construções, incluindo proteínas completas e domínios que podem ser alvos para inativação.

A etapa seguinte do projeto envolveu técnicas de engenharia genética: os genes do zika foram clonados e inseridos em bactérias, uma técnica frequentemente utilizada em pesquisas. Dessa forma, as bactérias passaram a produzir proteínas virais, que podem, então, ser purificadas e analisadas.

Em uma etapa da pesquisa concluída há poucas semanas, os cientistas conseguiram avaliar com precisão a estrutura de uma proteína essencial para a multiplicação do vírus zika, chamada de RNA polimerase. Presente no processo de replicação viral, essa enzima é responsável por produzir as cópias do material genético do patógeno.

Entre outras características, o estudo revelou que o formato da RNA polimerase do zika é bastante diferente do formato da RNA polimerase do vírus da dengue, o que torna necessário um antiviral específico.

Curcumina

O tempero que dá cor e sabor a muitos pratos pode ser o ingrediente que faltava no combate à dengue. Pesquisadores da USP em parceria com a UFSCar descobriram que a curcumina, uma substância presente no açafrão e que dá o tom laranja ao pó, pode matar as larvas do Aedes aegypti.

Segundo o professor Vanderlei Bagnato, do Instituto de Física (IFSC), quando a larva ingere a substância e é exposta a qualquer tipo de luz, inclusive a solar, ocorre uma reação que leva à destruição de seu intestino e à morte. Tudo isso de forma simples.

Basta colocar o pó em locais onde o mosquito da dengue costuma se reproduzir, como pratos e vasos de plantas. A larva ingere a substância e morre pouco depois, mesmo quando a área não está plenamente iluminada.

"Ela mata em duas horas as larvas que estavam diretamente expostas ao sol e leva um período um pouquinho mais longo, de 24 horas, para as larvas que estavam em locais sombreados", explicou a pesquisadora Larissa Souza. Além de ser eficaz, a substância não agride o meio ambiente.

“Vale lembrar que não é o açafrão da culinária que pode jogar nos criadouros, é uma molécula sintetizada pelo laboratório da UFSCar”, completou.

Método

Quando entra em contato com a luz, combate as larvas e se dissolve. Em testes no laboratório, bastaram alguns minutos para o líquido alaranjado voltar a ficar quase transparente. "Se você colocar a curcumina na água de um vaso e o seu cachorrinho, por um acaso, for lá e tomar essa água, nada vai acontecer", afirmou Bagnato.

Os estudos com a curcumina ainda estão em fase de testes. O objetivo é usar essa substância em qualquer criadouro, sem prejudicar o meio ambiente. Por enquanto, a melhor forma de evitar as doenças ainda é deixar o quintal limpo, sem água parada. “Nós estamos produzindo técnicas que vêm adicionar para termos maior eficiência na eliminação do mosquito, mas não devemos deixar nada de lado. Tudo aquilo que é recomendado fazer tem que ser feito”, declarou Bagnato.

Fonte: G1



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