Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) podem estar no caminho do desenvolvimento de uma estratégia pioneira de diagnóstico precoce da doença de Parkinson. Prestes a ser publicado na revista alemã Molecular Neurobiology, o estudo “Cholinergic oculomotor nucleus activity is induced by REM sleep deprivation negatively impacting on cognition” revela uma relação direta entre a privação de sono REM, fase marcada por sonhos e movimentos oculares rápidos, e o aumento da atividade de neurônios localizados em uma região cerebral chamada de núcleo oculomotor.
De acordo com o coordenador da pesquisa e chefe do Laboratório de Neurofisiologia da UFPR, Marcelo M. S. Lima, a descoberta é fruto da observação de resultados com biomarcadores que não tinham, inicialmente, a intenção de estudar essa região cerebral. Ele explica que a reação observada é como se os neurônios da área quisessem estar ativos, mesmo em um momento de privação do sono REM. “Provavelmente, como há prejuízo do sono REM na doença de Parkinson, deve haver um aumento da atividade destes movimentos oculares, de forma mais intensa que em outros indivíduos”, pontua Lima. Essa condição produziu prejuízo de memória nos animais de experimentação. O prejuízo de fases do sono entre pacientes de Parkinson já havia sido, em outra oportunidade, objeto de estudo do Laboratório de Neurofisiologia da UFPR.
O pesquisador acredita que esta ativação do núcleo oculomotor pode ser associada a um provável marcador da fase inicial da doença de Parkinson. Hoje, segundo ele, a maior parte dos estudos presentes na comunidade científica estão voltados a alterações motoras mais avançadas no paciente. “Nessa doença, há um imenso prejuízo de sono REM, o que contribui para a piora cognitiva dos pacientes e também da qualidade de vida em geral. São indivíduos que manifestam sonolência diurna excessiva, fragmentação de sono e até mesmo ataques de sono, uma sonolência repentina e incontrolável”, assinala.
Aplicativo
O estudo ainda precisa entrar na fase de testes com humanos. Até lá, a previsão, comenta o coordenador, é que sejam desenvolvidos trabalhos para criar uma ferramenta de diagnóstico precoce das alterações oculomotoras, como um aplicativo. Isso deve ocorrer primeiro em animais e depois em pacientes voluntários. “Esse método consistirá do uso de um aplicativo para smartphones que utilizará a câmera frontal do aparelho para detectar os movimentos dos olhos dos pacientes. Serão projetadas imagens móveis na tela e a movimentação ocular será captada”, resume Lima.
A expectativa, acrescenta, é que, a partir desta tecnologia, possa ser gerada uma nota para o desempenho oculomotor do paciente. “Acreditamos que esse score poderá ser utilizado pelos médicos para ajudá-los no diagnóstico diferencial da doença de Parkinson, bem como no controle fino da dose de medicamentos que serão ministradas”, define ele.
Segundo Lima, o principal objetivo da pesquisa é tentar estabelecer uma estratégia de diagnóstico o mais precoce possível, a fim de possibilitar um tratamento mais efetivo e melhora na qualidade de vida dos pacientes com Parkinson. Ele lembra que a doença, embora seja antiga, descrita inicialmente em 1817, ainda há muito o que se descobrir a respeito dela. “Os cientistas já descreviam que o sono estava alterado nos pacientes com Parkinson, mas só se voltou a estudar isso nos anos 2000”, pondera, ao destacar também que, com a maior expectativa de vida da população, a tendência é que mais casos de doenças degenerativas sejam registrados.
Outros pesquisadores
Também participaram do estudo os pesquisadores Patrícia dos Santos, Adriano Targa Dias Santos, Ana Carolina Duarte Noseda, Lais Soares Rodrigues, Juliane Fagotti, Mariana Aurich, Jessica Ilkiw Lopes, Luana Caroline Kmita, Flávia Dorieux Wastner Cunha e Priscilla Luiza Silveira de Souza.
Fonte: Gazeta do Povo