Notícia: Estudo genético sobre vírus da gripe busca tornar vacina mais eficaz

Publicado em 31 de mai. de 2016

Estudo genético sobre vírus da gripe busca tornar vacina mais eficaz


Alterações do Influenza dificultam programa de imunização contra a doença
Estudo genético sobre vírus da gripe busca tornar vacina mais eficaz

Todo ano uma vacina inteiramente nova é produzida para combater uma mesma doença: a gripe. E o motivo desse trabalho incessante é a “inteligência” do Influenza, um dos vírus que mais passam por mutações, gerando uma série de subtipos e linhagens, como o H1N1 e o H3N2, ambos pertencentes ao tipo A. Entre um inverno e outro — época em que há mais disseminação dos vírus —, a Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica quais foram as três ou quatro estirpes mais comuns em circulação na temporada anterior e, a partir dessas cepas, desenvolve a imunização. Agora, um grupo de cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, defende o uso de sequenciamento genético para encontrar os padrões de mutação dos vários subtipos do vírus da gripe e, assim, preparar a melhor vacina para proteger contra a versão atualizada deles.

Dada a velocidade das mutações do Influenza, é comum surgir uma cepa nova em cima da hora, sem que dê tempo de incluí-la na elaboração da vacina. Isso aconteceu na temporada de gripe de 2015, quando a imunização utilizada mostrou eficácia inferior a 20%, índice muito aquém das expectativas.

Publicado na revista “Nature Microbiology”, o estudo que propõe o novo método de produção aposta que, uma vez identificados os padrões, seria possível prever as futuras mutações do Influenza. O virologista Yoshihiro Kawaoka, líder da pesquisa, analisou o H1N1 — uma nova versão do mesmo vírus que gerou a gripe espanhola em 1918 e a gripe russa em 1977 — e o H3N2, que surgiu na gripe de Hong Kong, em 1968, e vem passando por mutações desde então.

— Podemos identificar as mutações que irão ocorrer na natureza e tornar esses vírus disponíveis, em laboratório, no momento da seleção de cepas para a vacina — aspira Kawaoka.

Para João Toniolo Neto, ex-diretor do Grupo de Vigilância Epidemiológica da Gripe (VigiGripe), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o estudo é promissor, mas precisa passar por mais testes e requer, além de uma integração com a OMS, um grande investimento em tecnologia. E alerta que esse método só conseguirá prever as mutações menores pelas quais os vírus passam todos os anos. Já as maiores, capazes de transformar o vírus, continuarão imprevisíveis, segundo ele.

— O H1N1 do ano passado, por exemplo, se assemelha muito ao deste ano, porque só teve uma mutação menor. Isso faz com que a vacina atual seja muito segura, embora o cenário ideal fosse, é claro, colher esse vírus agora e preparar rapidamente uma vacina com ele, a tempo de usar já. Mas isso não é possível: uma vacina demora entre quatro e seis meses para ficar pronta — conta ele. — Por sequenciamento genético, só é possível prever mutações menores, mas são as maiores que provocam as pandemias. E essas nunca são previsíveis.

Longe de uma versão universal

Alguns cientistas mundo afora investigam a possibilidade de uma vacina universal da gripe, que proteja contra todos os seus subtipos. No entanto, Toniolo Neto ressalta que esse horizonte ainda está distante.

— A vacina universal ainda está muito longe de ser realidade. A ideia mais concreta, hoje, é que passemos a acrescentar cepas à vacina. Antes só tínhamos a trivalente, e este ano temos a tetra. Daqui a pouco devemos ter a pentavalente e assim por diante. Quanto mais cepas, mais as pessoas estarão protegidas — afirma ele.

Diretora médica da Sanofi Pasteur na América Latina, Lucia Bricks explica que cultivar os vírus em laboratório, matá-los e aplicar neles os reagentes recebidos pela OMS, chamados de antígenos — que induzem uma resposta imunológica —, é um processo demorado. Além disso, segundo ela, o risco de erro na previsão sobre as cepas que mais circularão é considerável. Estes aspectos tornam a elaboração e a logística da vacina da gripe “uma dor de cabeça anual”, diz Lucia.

— Ninguém poderia ter certeza, ano passado, de que a cepa que mais circularia em 2016 seria o H1N1. Poderia ser outra, mas que bom que não foi — destaca. — Vírus como o H2N2 já causaram pandemias, mas ninguém sabe por onde ele anda hoje. Também há o H5N1, muito letal e para o qual já existe uma vacina, que só não é usada porque ele não está circulando. Pode sempre haver surpresas, por isso é essencial a cultura da vacinação.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, a Olimpíada no Rio não deve ajudar a espalhar o H1N1.

— Como este ano a temporada de gripe no Brasil começou muito antes do previsto, em janeiro, devemos terminar antes também, não pegando os Jogos Olímpicos. Isso diminui o risco — diz.

Fonte: O Globo



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