Maior esperança no combate à doença no Brasil, a vacina contra a dengue deve custar tão caro que boa parte da população continuará sem usufruir de seus benefícios. Pior, o alto valor pode inviabilizar a adoção do medicamento pelo sistema público de saúde. O que era para ser alívio virou preocupação após o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Jarbas Barbosa, afirmar que cada dose pode chegar a R$ 400. Detalhe: são necessárias três para a imunização, o que dá um total de R$ 1,2 mil. Na esteira da declaração, o então ministro da Saúde de Dilma Rousseff, Agenor Álvares, afirmou que fica “praticamente impossível” incorporar o remédio ao programa nacional de vacinação. “Para o governo, o valor informado foi de 22 euros a dose (cerca de R$ 88). Mesmo com esse preço, o impacto é de R$ 10,5 bilhões ao ano, três vezes o orçamento do programa”, disse o ministro. “Sem dúvida, R$ 400 é impeditivo”, afirmou o infectologista Marcos Boulos, chefe da Coordenadoria de Controle de Doenças de São Paulo, estado campeão de casos de dengue no Brasil. “É caro para o serviço público e muito provavelmente nós não vamos comprar nunca.”
Aprovada pela Anvisa no fim de 2015, a vacina contra a dengue espera a definição da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMed) – órgão composto por cinco ministérios que define o preço máximo dos remédios no País – para ser liberada, o que deve acontecer em meados deste ano. Apesar de o valor final ainda não estar definido, a declaração de Barbosa dá a tônica de quanto poderá ser preciso desembolsar caso se busque proteção contra a doença que mata centenas de brasileiros anualmente. Secretário-executivo da CMed, Leandro Safatle afirma que a precificação desta vacina é mais complicada porque se trata de um produto novo, sem referências. “Estamos desenvolvendo uma metodologia.”
Como o combate ao mosquito Aedes aegypti é muito deficiente no Brasil, a vacina é considerada a melhor chance para vencer a doença. Pesquisa feita pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) calculou que em cinco anos os casos poderiam cair até 81% se fosse feita campanha via Sistema Único de Saúde (SUS) entre pessoas de 9 e 40 anos. Mesmo no cenário considerado mais realista, o de distribuição apenas a jovens de 9 a 16 anos, o número de registros já cairia pela metade. “Mas se o governo não adotar a vacina, a resposta será baixa”, diz o médico Denizar Vianna Araújo, responsável pelo estudo. Com o preço alto, a perda para a dengue se dá não só em vidas, mas também em dinheiro público. O custo da doença para o País pode chegar a R$ 4,7 bilhões por ano, de acordo com levantamento da Universidade Federal de Goiás (UFG) feito em 2015.
Diretora brasileira de planejamento estratégico de dengue da Sanofi Pasteurs, a empresa que desenvolveu a vacina, Amanda Pinho afirma que o laboratório não recebeu um posicionamento oficial da Cmed, mas que prepara um relatório de custo-efetividade com a sugestão de preço do medicamento para venda ao Ministério da Saúde. A pesquisa leva em conta os custos de produção e desenvolvimento do remédio, mas também o quanto ele pode ajudar o governo a economizar no tratamento de doentes. E o valor será “menor” do que os R$ 400 anunciados pelo presidente da Anvisa durante entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “Continuamos otimistas (na distribuição da vacina pelo SUS) porque sabemos o benefício que podemos trazer para a saúde pública”, diz Amanda. Procurados, tanto o Ministério da Saúde quanto a Anvisa ressaltaram que, apesar da declaração de Barbosa, o preço definitivo ainda não foi estabelecido.
A boa notícia é que outras três vacinas contra a dengue estão em desenvolvimento e, quando começarem a chegar ao mercado (a partir de 2018, de acordo com os responsáveis), a concorrência deve fazer o preço cair, independentemente da avaliação da CMed.
Fonte: IstoÉ