O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade Harvard, ambos nos Estados Unidos, desenvolveram um novo teste diagnóstico para o vírus
zika. Capaz de fornecer resultados mais rápidos - em cerca de 2 horas – o teste também consegue distinguir outros vírus similares ao zika, como dengue e chikungunya a um custo de aproximadamente um dólar por teste. O anúncio da nova tecnologia foi feito na revista científica
Cell. ““A técnica fornece o diagnóstico diretamente no local que o paciente está, sem necessidade de enviar a amostra para um laboratório”, disse à ÉPOCA o biólogo Keith Pardee, que trabalhou na construção do teste na Universidade Harvard. Para funcionar, é preciso que o vírus ainda esteja em circulação no organismo.
O teste americano é baseado na tecnologia utilizada anteriormente pela mesma equipe de pesquisadores para diagnosticar o vírus ebola, que matou 11.316 pessoas na África nos dois últimos anos. O teste identifica o vírus em amostras de sangue, urina ou saliva e não precisa de equipamentos sofisticados nem mesmo de um laboratório para fornecer o resultado. O dispositivo do teste é do tamanho de um selo de carta e é feito de um tipo de papel que muda de cor quando identifica o vírus em amostras de fluídos, semelhante a um teste de gravidez. A mudança de cor pode ser vista a olho nu, mas um leitor eletrônico pode ser usado para quantificar a mudança na cor quando há mais de um vírus sendo detectado. Os pesquisadores mostraram que a detecção é possível mesmo em concentrações muito baixas.
O exame americano ainda não está disponível para a população. Por enquanto, foi testado apenas em macacos. O próximo passo é avaliar o teste em milhares de amostras clínicas para validar sua eficácia. “Os esforços estão focados em conseguir os recursos para colocar em prática a tecnologia para que os testes estejam nas mãos dos responsáveis globais de saúde o mais rápido possível”, diz Pardee. “Esperamos que o processo de análise e aprovação possa ser feito em menos de um ano.”
Atualmente os testes disponíveis para diagnosticar o zika utilizam uma técnica que reconhece o material genético do vírus no sangue ou na urina do paciente. Essa técnica requer equipamento caro e especializado, técnicos treinados e não é portátil. Isso exige que as amostras sejam coletadas nas unidades de saúde e sejam enviadas para as áreas urbanas, onde existem instalações equipadas. No Brasil, nem todos os estados possuem laboratórios equipados, e o resultado dos exames pode demorar mais de um mês para voltar ao hospital de origem. Apenas 12 laboratórios estão habilitados para fazer o teste.
Em ÉPOCA desta semana, uma reportagem mostra a dificuldade de gestantes com suspeita de zika terem acesso ao exame - e como uma confusão burocrática entre a Fiocruz, a Anvisa e o Ministério da Saúde atrasou a distribuição na rede pública de testes mais rápidos, desenvolvidos pela Fiocruz em janeiro. O prazo mais otimista estima que eles cheguem a 27 laboratórios públicos apenas em julho, com cinco meses de atraso.
Originário do continente africano, o vírus zika passou pelo sudeste asiático e por ilhas no Pacífico antes de ser identificado no Brasil em abril de 2015. Atualmente o vírus zika já ultrapassou as fronteiras brasileiras e representa uma ameaça mundial. Em relatório divulgado na quinta-feira (19), a Organização Mundial de Saúde confirmou casos de transmissão local do zika em 46 países e a presença do vírus inclusive em países da América do Norte e Europa, onde o mosquito transmissor do vírus não circula com frequência por causa do clima frio.