Muitos benefícios da atividade física ocorrem por meio de alterações no metabolismo, as transformações químicas que organizam a produção e consumo de energia no organismo. Pesquisas buscam hoje criar drogas capazes de reproduzir esses efeitos, mas será que uma eventual “pílula do exercício” poderia de fato curar os males do sedentarismo?
Um estudo que revisou diversas linhas de pesquisa concluiu que esse objetivo ainda é um sonho distante, e um fármaco que tenha essa função provavelmente seria limitado comparado ao exercício real. A ambição de produzir uma droga com essas características, porém, é realista, e poderia ajudar a melhorar a saúde de pessoas incapazes de praticar exercícios.
“O estilo de vida sedentário, a falta de exercícios físicos e a inatividade prolongada certamente aumentam doenças crônicas como obesidade, diabetes tipo 2 e cardiopatias”, afirma o farmacólogo Ismael Laher, da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), no trabalho escrito com seu colega Shunchang Li.
O estudo, publicado nesta sexta-feira (2) pela revista “Trends in Pharmacological Sciences”, avalia oito drogas que já estão em fase de testes com animais para avaliação de seu efeito em reações químicas metabólicas ligadas à atividade física.
“O conhecimento desses ‘alvos’ moleculares levou à busca de intervenções que possam imitar os efeitos benéficos do exercício e não requeiram atividade muscular real”, explica Laher no estudo.
“Nenhuma das pílulas candidatas hoje reproduz completamente os efeitos benéficos do exercício, mas cada pílula pode ativar alvos distintos e sobrepostos em reguladores de transcrição [ativadores de DNA] que podem emular parcialmente efeitos benéficos dos exercícios físicos”, concluem os cientistas.
Corrida farmacológica
Várias empresas e universidades estão investindo hoje em testes iniciais de drogas candidadas. Entre os compostos avaliados estão drogas ainda sem nome comercial, como o composto GSK4716, da gigante farmacêutica GlaxoSmithKline, que parece restaurar fibras musculares e ampliar a criação de mitocôndrias, estruturas celulares que processam energia.
Outro medicamento é a irisina, um fármaco desenvolvido pela Universidade Harvard que altera a eficiência do organismo no consumo de energia. Um dos fármacos em teste, o GW501616, criado pelo Instituto Salk, melhorou a resistência física de camundongos em teste, além de conferir benefícios metabólicos.
Apesar de cada um dos medicamentos abordar apenas parte dos benefícios bioquímicos do exercício, uma combinação deles pode produzir no futuro um resultado que seja mais similar aos vários benefícios que a atividade física real traz. “Mas não sabemos nada ainda sobre o uso prolongado dessas substâncias em humanos”, afirma Laher.
É improvável, diz o pesquisador, que uma pílula do exercício supere os benefícios reais do combate ao sedentarismo, mas isso não significa que ela não venha a ser útil.
“Infelizmente, a adesão ao exercício é extremamente baixa e, algumas vezes, impossível”, escreve. “Uma pílula para pessoas com lesão na medula espinhal, por exemplo, pode ser de grande apelo, dadas as dificuldades que esses indivíduos enfrentam para se exercitarem em razão da paralisia. Esses pacientes sofrem muitas alterações maléficas nas funções cardiovascular e muscular.”