Novas orientações para a vacinação em adultos e crianças foram divulgadas nesta segunda-feira na revista da Associação Médica Canadense (CMAJ, na sigla em inglês) para auxiliar o trabalho dos prestadores de serviços médicos.
Segundo os autores, é comum sentir dores na hora da vacinação e assim, muitos adultos e crianças hesitam quando vão tomar novas doses.
— E por isso podem se colocar em risco, já que muitas doenças infecciosas podem ser evitadas por meio da vacinação — afirma Anna Taddio, professora na Faculdade de Farmácia Leslie Dan, da Universidade de Toronto, e cientista sênior do Hospital para Crianças Doentes (SickKids), que comenta que muitas destas recomendações podem ser usadas nas mais variadas situações, como no posto de saúde, consultório médico, escolas ou nos locais de trabalho.
Estas orientações foram ampliadas e contemplam crianças e adultos. É que em 2010, as regras foram direcionadas apenas as crianças. Esses conselhos foram compilados pelo grupo HELPinKids & Adults que cria ferramentas para melhorar os cuidados com a dor durante as injeções. Este é um grupo multidisciplinar com cerca de 25 pessoas, especialistas em dor, medo, vacinas, nutrição, epidemiologia e outras áreas.
Entre as principais recomendações, para pessoas de todas as idades, eles destacaram:
— A aspiração não deve ser utilizada nas injeções intramusculares (a aspiração é quando se puxa o embolo para trás, após a aplicação, para se certificar de que a agulha não pegou em um vaso sanguíneo). E também injetar a vacina mais dolorosa por último, quando serão aplicadas mais de uma vacina.
De acordo com a enfermeira Míriam Moura, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, a aspiração, no caso das vacinas, ainda é praticada e ensinada nos cursos de enfermagem. Mas, por causa dos locais onde as vacinas normalmente são aplicadas (lateral da coxa e braço), é difícil que um vaso sanguíneo seja atingido.
— Por isso, não é necessária a aspiração. Muitos estudos afirmam que, quanto mais tempo a dor se prolongar, pior. Então, não é necessário aumentar o tempo deste processo — ensina Miriam, para quem a atualização destas recomendações é excelente. — Taddio tem muitos trabalhos sobre o assunto e nós ministramos cursos e jornadas de vacinação com base em seus ensinamentos. Acho importante focar nos adultos também porque há cada vez mais vacinas para este público e muitos sofrem mesmo. Ficam com vergonha de admitir e por isso fogem das vacinações.
No caso das crianças, as recomendações são mais amplas:
1 — Dar de mamar para menores de 2 anos durante a vacinação ou dar uma mistura de água com açúcar antes da injeção.
2 — Segurar nos braços crianças de até 3 anos para dar mais conforto.
3 — A posição vertical é a mais recomendada para a aplicação em crianças e adultos com mais de 3 anos. Isso porque dá uma sensação de controle e o medo pode diminui. Limitar crianças não recomendado.
4 — Aplicar analgésicos para dor antes da injeção em crianças menores de 12 anos.
5 — Os pais das crianças com até 10 anos devem estar presentes na hora da vacinação para reduzir a aflição delas.
Miriam afirma que estes procedimentos são muito usuais e que funcionam. Ela comenta que em relação à amamentação, é preciso que a mãe se sinta segura também. Isso porque, se ela ficar nervosa, a criança pode ficar junto.
— Sobre os cremes com analgésico, é importante dizer que precisam ser aplicados de 40 minutos a uma hora antes da vacinação para que façam efeito. E tem de ser exatamente no lugar da injeção. Muitas vezes, as mães passam a pomada em casa e a enfermeira tem de aplicar a injeção em outro local. Daí não vai funcionar — completa Miriam, que gosta destas pomadas principalmente para quem tem muito medo da “picada”.
Ela acredita que o principal nesta situação é olhar o paciente. Afirma que este cuidado, de tratar cada um de uma forma especial, é o mais importante para deixá-lo à vontade, relaxado.
— Falo até de futebol com os homens se preciso (risos). As pessoas precisam ficar tranquilas, com os músculos tranquilos. E ter a mão leve, né? Isso, para mim, significa ser firme, não usar a força.
Os autores canadenses também recomendam que os pais expliquem para as crianças mais velhas sobre o que esperar da vacinação, o que podem sentir.
Esclarecem que nenhuma das intervenções propostas evitará a dor. E sugerem abordagem abrangente nas escolas além das campanhas para minimizar a angústia que muitas crianças tem em relação às injeções. Por causa disso, podem ter danos a longo prazo caso desenvolvam medo em relação a agulha.