Uma das grandes descobertas da medicina são as células-tronco, capazes de se multiplicar e se diferenciar, dentro de uma linhagem específica ou em várias linhagens, dependendo do seu tipo. Elas são encontradas em embriões, sangue, medula óssea, cordão umbilical, gordura e outros tecidos. Assim, as células-tronco (CTs) têm a função de recuperar tecidos feridos e repor outras células quando essas morrem. Dessa forma, as CTs nos mantêm saudáveis e nos previnem de envelhecer precocemente. “Elas são uma espécie de reserva no organismo, fazendo seu papel quando exigidas”, explica o médico e cirurgião-dentista Sérgio Duval de Barros Vieira.
Para Geraldo Carvalhaes, anestesiologista e diretor da Clínica da Dor, um dos avanços mais importantes das pesquisas sobre células-tronco é o uso do plasma rico em plaquetas. Durante os estudos, verificou-se que as CTs se originam das células mesenquimais da medula óssea, e que essas dão origem também às plaquetas, que não têm todas as propriedades regenerativas da célula-tronco, mas muitas delas. “Passamos, assim, a usar o plasma rico em plaquetas para regenerar uma série de lesões tendinosas, musculares e ligamentares, principalmente na área esportiva, o que tem proporcionado um grande avanço na medicina regenerativa e do esporte. Quanto à medicina genômica, ainda estamos engatinhando”, diz Carvalhaes.
Estudos indicam que as células-tronco poderão ser usadas no tratamento de doenças autoimunes, como artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, nefrite lúpica e o diabete melitus. Mesmo com vários indícios positivos em várias pesquisas de células-tronco e suas aplicações para tratar doenças, quase todas ainda estão em estágio inicial. É preciso adotar métodos rigorosos de pesquisa e testes para garantir segurança e eficácia a longo prazo. Historicamente, Sérgio Vieira relembra que as pesquisas na medicina regenerativa tiveram início há mais de cinco décadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia, sem que tivesse sido ainda identificada a célula-tronco. É um avanço recente. “Em 1998, foram identificadas células-tronco embrionárias em humanos. A partir disso, iniciaram-se as investigações para seu uso em terapias. A realização desses estudos foi extremamente árdua devido a questões religiosas e éticas, que vêm apresentando mudanças. Sabe-se, hoje, que o maior número de células-tronco se encontra na gordura, tecido abundante, descartável, que pouquíssimas pessoas desejam.
“Em 2010, publicamos nos EUA e na Inglaterra um método, de fácil execução, de tratamento da gordura e retirada de suas células-tronco. Esse trabalho foi premiado no Congresso Internacional de Cirurgia Plástica em Genebra em 2012”, explica Vieira, representante no Brasil da Plataforma Tecnológica de Separação da Porção Estromovascular da Gordura, técnica desenvolvida para executar esse procedimento.
A biomédica especiaista em medicina regenerativa Wirla Pontes ressalta que o uso de células para terapias e procedimentos é uma realidade no mundo inteiro. “A ação dessas células tem sido estudada e aplicada em várias especialidades e os resultados são surpreendentes. A descoberta das células-tronco e seus benefícios mostrou para o mundo científico os mecanismos de reparação, regeneração que elas sempre estiveram ali cumprindo essa função. Entender como funciona e usar esta capacidade nata das CTs trouxe uma grande revolução na ciência.”