"Ele não olhava no rosto da gente, se espantava e tinha um gesto repetitivo com a mão. Ele desenvolveu o sentar, o engatinhar normalmente e quando passou para fala chegou até a balbuciar mais ou menos, mas ao completar dois anos parou de falar. Só apontava, chorava muito, ficava muito nervoso, irritado, falávamos com ele e ele não olhava. Chegamos a fazer exames de audimetria para saber se ele tinha problema de surdez já que ele não identificava sons e a percepção dessas características nos levaram a um rápido diagnóstico", explicou a mãe.
Dor e superação
Jucyara relata que os anos até o diagnóstico foram dolorosos e que as imagens mentais que criava para o futuro do seu filho eram desanimadoras. Porém, junto a isso, a alegria e a superação de acompanhar a evolução do filho a deram força para continuar.
"Eu sentia impotência pois imaginava que o erro estava comigo por ele ter essa patologia. Tive depressão e um período de tristeza muito grande. Quem me ajudava muito era minha mãe. Ela nunca ficou no mesmo patamar que eu de tristeza e me dava sustentação. A gente sente que a culpa é nossa, que há um erro nosso e a a gente que proporcionou isso ao filho. A primeira prospecção que a gente faz é que os filhos não vão ter nada que uma criança normal tem e quando a gente começa o tratamento que vê todos os progressos e a evolução que ele tem, a gente diz: 'poxa ele vai poder ter uma vida feliz e de qualidade'. Podemos dizer que as pessoas podem compreender ele, ele vai ter oportunidade de ser inserido na sociedade e vai poder ser participante dela. Não só atuante, ele vai ser participante daquela sociedade", comemorou Jucyara.
Depois de superar as dificuldades em seu interior, começa o desafio externo, que é enfrentar as dificuldades de inclusão para a inserção de crianças com autismo em escolas de ensino regular. Instituições como a AMA (Associação de Amigos do Autista) em Teresina, chegam a ter uma fila de espera de 100 pessoas para novas vagas. Jucyara relata que a experiência de mudança de escola é traumática, mas que com a insistência e o interesse dos pais, é possível sim, inserir a criança autista na escola. Nesse ponto, Jucyara reforça a importância da AMA no aprendizado e desenvolvimento do filho, que é acompanhado pela instituição.
Caminhos a seguir
Jucyara acrescenta que o primeiro passo de uma mãe na luta pela evolução do filho é conhecer tudo que é oferecido e que está ao seu alcance para o tratamento. Para ela, a melhor maneira de começar a fazer isso, foi largando o curso de veterinária que fazia, para encarar a sala de aula de Educação Física, onde pretende se especializar em psicomotricidade para atender não só o filho, como outras crianças que sofrem com as mesmas limitações.
Assim como Jucyara, há em Teresina, outros exemplos de estudantes que desejam atender a esse público em especial. É o caso de Raul Pereira, de 23 anos. O jovem cursa o 6º período e Educação Física na Universidade Federal do Piauí, e garante que irá se especializar no atendimento a crianças com necessidades especiais. "Eu tive o exemplo dentro de casa, ao conviver durante toda a infância com meu melhor amigo, portador de uma síndrome, mas isso pouco importava para a nossa amizade. Trabalhar e tratar crianças com esse tipo de necessidade me leva além e me traz de volta a alegria e os sentimentos mais puros que pude conhecer e sentir", comentou o jovem.
Fonte: Cidade Verde