Um conjunto de três remédios vai inovar o tratamento de hepatite C crônica no país. Junto com o daclatasvir, aprovado em janeiro, e o simeprevir, aprovado em meados deste mês, o sofosbuvir, que teve o registro concedido nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), compõe um tratamento que vem sendo utilizado em países da Europa, no Japão e Canadá.
O trio representa um avanço considerável no tratamento da doença. Em comparação com os medicamentos utilizados atualmente, eles elevam o índice de cura de 75% para mais de 90%, são administrados por via oral - enquanto os atuais são injetáveis -, e reduzem os efeitos colaterais. Além disso, as novas pílulas têm a vantagem de reduzir o tempo de tratamento, que hoje é de cerca de um ano, para três meses. A expectativa é que os três estejam disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) entre agosto e setembro deste ano.
"Essa é uma luz no fim do túnel para os pacientes de hepatite C crônica. O novo tratamento, composto por medicamentos que atacam diretamente o vírus, só tem pontos positivos. São novos, de eficácia maior e, nos países em que vêm sendo utilizados, como França ou Estados Unidos, os efeitos colaterais são muito reduzidos, o que os estudos já apontavam", diz o infectologista Roberto Focaccia, coordenador do grupo de hepatites virais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.
Nova tecnologia
Os medicamentos aprovados pela Anvisa fazem parte da chamada terceira geração de tratamentos para a hepatite C. A doença, causada por cinco tipos de vírus transmitidos principalmente pelo sangue contaminado, começou a ser tratada com maior eficácia na década de 1990 pelo remédio interferon, um quimioterápico que estimula o sistema imunológico. Ele não ataca diretamente o vírus e promove uma série de efeitos colaterais. Há cerca de cinco anos, entraram em cena os antivirais, que atuam diretamente no vírus, em suas diferentes fases de multiplicação, e promovem uma taxa de cura maior.
A partir de então, antivirais como o ribavirina passaram a ser associados ao interferon, um tratamento que conseguia curar de 40% a 45% dos doentes e precisava ser seguido por um período que variava de 48 a 72 semanas. Em 2013, o SUS passou a oferecer o boceprevir e o telaprevir, inibidores de protease que impedem a replicação do vírus e impossibilitam o progresso da doença. Associados ao interferon e à ribavirina, a taxa de cura da terapia subiu para 75%, com uma duração de até 48 semanas. Os novos medicamentos aprovados neste início de ano, entretanto, não precisam ser associados ao interferon, o que é um grande avanço para o tratamento.
"Esses remédios atingem pontos nevrálgicos do vírus, um ganho excepcional no combate à doença. Eles diminuem muito o risco de câncer no fígado e barram a reinfecção. Juntos, esses fatores significam uma economia imensa no tratamento da doença crônica", diz Focaccia. Se administrados na fase inicial da hepatite C, previnem que a doença seja transmitida, pois a hepatite C só apresenta sintomas em fases avançadas.
PrevalênciaNo Brasil, calcula-se que existam cerca de 1,5 a 1,7 milhão de pessoas infectadas pela hepatite C, que é responsável por 70% das hepatites crônicas, 40% dos casos de cirrose e 60% dos cânceres primários de fígado. Estimativas indicam que cerca de 3% da população mundial pode ter sido exposta ao vírus e desenvolvido infecção crônica, o que corresponde a 185 milhões de pessoas. A evolução da infecção, do seu início até a fase da cirrose hepática, pode levar de 20 a 30 anos e não apresentar sintoma.
Fonte: Veja