Um aparelho que induz à sensação de saciedade depois de ser implantado no abdome é a novidade no tratamento da obesidade. O sistema acaba de ser liberado para comercialização pela FoodDrug Administration (FDA), a agência americana responsável pela aprovação de medicamentos e produtos de saúde cujas decisões costumam servir de parâmetro para serviços semelhantes de outros países. É o primeiro equipamento contra o excesso de peso aprovado pelo FDA desde 2007.
O sistema chama-se Maestro Rechargeable System e consiste em um marca-passo e uma bateria recarregável via bluetooth. Os eletrodos são colocados próximos do ponto do nervo vago localizado na junção entre o esôfago e o estômago. Esse canal nervoso desce do cérebro e inerva vários órgãos, entre eles o coração e o estômago. Ele tem papel importante no processamento das informações de saciedade enviadas do estômago para o cérebro. "No início da refeição, algumas substâncias, como a leptina, por exemplo, são liberadas e ativam o nervo vago a levar informação ao cérebro de que o corpo está alimentado", explica a neurocirurgiã Alessandra Gorgulho, chefe clínico-científica do HCor Neuro, de São Paulo. Os sinais elétricos emitidos pelos eletrodos modulam a atividade do nervo, dando uma mensagem ao cérebro de que se está saciado. A bateria é implantada na área subcutânea abaixo da clavícula.
De acordo com o estudo apresentado pelo fabricante, a americana EnteroMedics, com 233 pacientes, aqueles tratados pelo sistema perderam 24% de seu excesso de peso em um ano. No entanto, esperava-se que o aparelho promovesse pelo menos 10% a mais de perda de peso excessivo em comparação ao obtido pelos indivíduos que integraram o grupo controle (não receberam o implante). Não foi o que aconteceu. Mesmo assim, o FDA considerou que o equipamento mostrou-se um recurso importante para manter o emagrecimento a longo prazo. Um ano e meio depois, os pacientes com o aparelho apresentavam 23% de perda do peso em excesso. O aparelho é indicado para pessoas com índice de Massa Corpórea (IMC) superior a 35 - o número é calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado - que apresentam pelo menos uma doença associada à obesidade, como a diabetes ou a hipertensão, e não responderam a tratamentos anteriores. Os efeitos colaterais mais comuns manifestados pelos pacientes foram dor no local do implante dos eletrodos e azia.
A estratégia agora aprovada pelo FDA é um exemplo das opções que estão sendo geradas por um campo novo na medicina chamado de neuro-modulação. A ideia é usar a modulação por sinais elétricos para ajudar no tratamento de doenças como a dor crônica e o Parkinson. No Brasil, a médica Alessandra Gorgulho, do HCor Neuro, e seu colega, o neurocirurgião Antonio Salles, da mesma instituição, coordenam uma pesquisa sobre a eficácia do implante de eletrodos para tratar a obesidade. Em seu caso, porém, o implante é feito em um dos núcleos do hipotálamo, estrutura cerebral também envolvida no processamento da sensação de saciedade.
A investigação brasileira encontra-se em fase 1, realizada para avaliar a tolerabilidade dos pacientes ao implante. O procedimento foi feito em seis pessoas - o último recebeu os eletrodos no início de janeiro. Ainda existem outras etapas de estudo em humanos antes de o método ficar disponível. Já o aparelho americano começará a ser vendido nos Estados Unidos no próximo semestre.
Fonte: IstoÉ