Um medicamento barato, criado há 117 anos, continua sendo alvo de novas pesquisas para a cura e a prevenção de doenças tão distintas como infarto, câncer, esquizofrenia e mal de Alzheimer.
Há registros de mais de 55 mil referências de estudos sobre a aspirina, a maioria sobre suas propriedades analgésicas e uso para prevenção de doenças cardiovasculares.
Os últimos trabalhados, porém, têm se debruçado mais sobre aspirina e câncer. O medicamento, à base de ácido acetilsalicílico, já foi ligado em pesquisas à prevenção de tumores de mama, próstata, pulmão, ovário, endométrio, bexiga, pâncreas, fígado e, principalmente, de esôfago e colorretal.
A proteção pode estar relacionada à ação anti-inflamatória da aspirina.
"Chama a atenção o fato de vários estudos mostrarem um benefício para tumores diferentes, principalmente aqueles ligados a uma inflamação crônica", afirma Felipe Fernández Coimbra, cirurgião oncologista e diretor de cirurgia abdominal do A.C.Camargo Cancer Center.
Esse efeito explica ainda por que a aspirina é testada para diversas doenças, inclusive as neurodegenerativas e as mentais, como depressão, que já foram ligadas a um processo inflamatório.
Deve ser lançada neste ano, nos EUA, uma diretriz que informará se a aspirina deve ser usada para profilaxia de câncer colorretal.
A Bayer, fabricante da aspirina, está conduzindo um estudo com cerca de 10 mil pacientes para investigar se a aspirina pode, de fato, ser indicada para a prevenção desse tipo de câncer.
"A maioria dos estudos anteriores foi feita sem patrocínio. Com os resultados indicando uma tendência favorável, a empresa decidiu investir", afirma Gustavo Giannattasio, gerente de grupo médico da Bayer.
Ele afirma, porém, que o medicamento não tem indicação formal para a prevenção de câncer e não deve ser usado para esse fim.
"Discute-se se a aspirina poderia ser indicada para famílias com alto risco de câncer ou pessoas com muitos pólipos no intestino, por exemplo. Seria interessante ter um remédio que prevenisse tumores que geralmente são diagnosticados em fase avançada, mas ainda não é algo que usamos na prática clínica", diz Coimbra.
Um dos poréns para indicar o uso da aspirina de maneira generalizada para a população é seu risco de sangramentos gastrointestinais. Giannattasio lembra que pacientes com câncer têm, muitas vezes, risco maior de sofrer esse efeito adverso.
O remédio continua instigando pesquisadores a relacionar os benefícios centenários às diversas enfermidades. Na prática, porém, a pílula permanece com as mesmas boas e velhas indicações.
Fonte: Folha de S. Paulo