GENEBRA - O combate contra a malária ganhará um capítulo inédito em 2015. A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai analisar o uso da primeira vacina contra a doença, que promete mudar de forma radical a estratégia internacional para lidar com a infecção parasitária, que, apenas em 2013, matou quase 600 mil pessoas no mundo. O imunizante, porém, não será eficiente contra o parasita que atua na América Latina e, se aprovado, terá sua implementação reservada para a África e Ásia, onde estão 90% dos casos.
O diretor do Programa da OMS contra a Malária, Pedro Alonso, indicou ao Estado que uma vacina produzida pela GSK já passou por todos os testes e agora aguarda um sinal verde por parte da agência da ONU para poder ser comercializada e recomendada aos governos de todo o mundo.
Segundo ele, a proteção da vacina não será ainda completa, mas pode ter um impacto "significativo". "Trata-se de uma vacina de primeira geração. A proteção é de cerca de 45% e 50%, mas isso já é um passo enorme", explicou.
A GSK desenvolveu a dose graças ao financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates e se concentrou em produzir uma vacina que atue contra o Plasmodium falciparum, o parasita mais frequentemente encontrado na África. Não é o mesmo mosquito que afeta as Américas e, portanto, a recomendação não valerá para o Brasil.
Levantamento anual
Nesta terça-feira, 9, a OMS lança seu levantamento anual sobre a malária e revela que, apesar de a comunidade internacional ter destinado US$ 2,7 bilhões em 2013 para lutar contra a doença, os recursos são apenas 50% do que se necessita. No ano passado, 198 milhões de pessoas foram infectadas pelo parasita e 584 mil mortes foram registradas, 90% delas na África.
Apesar da doença ainda representar uma séria ameaça para dezenas de populações pelo mundo, a OMS também comemora seus resultados e indica pela primeira vez que a malária "pode ser vencida".
Entre 2000 e 2013, a mortalidade por conta da doença caiu em 47% e 4 milhões de mortes foram evitadas. O número de novos casos foi reduzido em 30%. Na África, a mortalidade de crianças de menos de 5 anos caiu em 58%. "São poucos os exemplos na saúde mundial em que os resultados positivos são tão importantes", indicou Alonso, revelando que os primeiros reais esforços de lidar com a doença foram registrados nos anos 50.
Segundo Alonso, duas medidas contribuíram de forma decisiva para esse avanço. Uma delas foi a distribuição de mais de 400 milhões de redes antimosquito para camas desde 2012 na África. Outra estratégia foi a introdução de um equipamento que permite um rápido diagnostico da doença. Em 2013, 319 milhões de testes foram comprados por governos.
Meta
A OMS também comemora o fato de que conseguirá atingir sua meta de frear a expansão da doença e começar a reverter a curva em 2015. Ainda assim, a OMS não prevê acabar com o parasita antes de 2030. A malária ainda é endêmica em 97 países.
Cerca de 278 milhões de pessoas ainda vivem em regiões fortemente afetadas pela doença e não contam com nenhuma ajuda. 15 milhões de mulheres grávidas não receberam remédios para evitar doença durante a gestação.
Nos países afetados pelo Ebola, a incidência da doença aumentou, e o Sudeste Asiático vive uma nova realidade: a resistência do parasita diante dos inseticidas.
Fonte: Estadão