O canabidiol é descrito como um dos 80 princípios ativos da maconha sem efeitos psicotrópicos. Mas a maior parte das versões existentes no mercado contém traços de THC, o composto responsável pelos efeitos psicoativos.
"Existem especulações de que algum traço de THC reduza convulsões, mas acima de uma determinada quantidade, a substância pode induzir crises convulsivas", diz o psiquiatra José Alexandre Crippa, da USP de Ribeirão Preto.
"Cada pessoa vai reagir de alguma maneira, o THC é muito complicado como terapia", diz.
Segundo Crippa, um dos fatores que complicam a liberação do CBD, que ainda está na lista de substâncias proibidas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), é estabelecer qual deveria ser o limite de THC permitido.
Mas, enquanto isso,o CBD já está sendo usado por doentes com epilepsia que não responde a tratamentos, como a síndrome CDKL5. Crippa exemplifica que a dose de CBD para a doença é de 300 mg por dia. Se o teor de THC no canabidiol for de 1%, isso já representa um cigarro de maconha por dia. "Mas, claro, para algumas pessoas, os benefícios superam os prejuízos."
Não há consenso para os traços de THC existentes no CBD. Resolução recente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, que autorizou a prescrição da substância para epilepsia grave, considerou que 0,6% seria uma concentração adequada de THC.
"A medida não é restritiva. Próximo de 1%, o THC já manifesta efeitos psicoativos, mas é o médico que vai ponderar os benefícios", afirma Mauro Aranha, coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria da Cremesp.
Para Crippa, o ideal é que o CBD seja o mais puro possível. Empresas no Reino Unido e na Alemanha já conseguem produzir o canabidiol sem THC.