As longas esperas enfrentadas pelos brasileiros para marcar consultas especializadas, tanto na rede pública quanto na privada, têm feito com que muitos pacientes adotem uma prática, segundo médicos, bastante arriscada: a automedicação. Divulgado recentemente pelo instituto de pesquisa Expertise, um estudo mostrou que 40% dos brasileiros entrevistados neste levantamento admitiram tomar remédios por conta própria. Conforme os pesquisadores, o hábito é resultado de uma insatisfação com a prestação dos serviços de saúde no país. Ao contrário do que muitos pensam, porém, as reclamações não são exclusivas de quem depende do sistema público.
Segundo a pesquisa, que ouviu brasileiros de 429 cidades de todo o país, 60% dos usuários de planos de saúde consideraram a qualidade do atendimento regular, ruim ou péssima, e mais de 70% definiram da mesma forma (regular, ruim ou péssimo) os prazos para marcação de consultas na rede suplementar.
"O grande gargalo do sistema de saúde, seja na rede pública ou na privada, é a marcação de consultas ou exames. E isso tem levado as pessoas a se automedicarem e procurarem se informar sobre os problemas apenas na internet", afirma o diretor de inteligência da Expertise, Marcelo Cenni.
Quem faz uso de remédios sem indicação médica reconhece os riscos, mas admite que, com a dificuldade de agendamentos, a prática já acabou virando hábito. `Tenho um clínico geral com quem me trato há anos pelo plano de saúde, mas às vezes demoro um mês para conseguir consulta, aí, dependendo do que estou sentindo, já tomo um remédio e pronto, melhoro", conta a aposentada Dalva Nogueira Miranda, 70, que já tem na ponta da língua os melhores medicamentos para dor no corpo e mal-estar. "Estou sempre indicando para as pessoas. De médico e louco, todo brasileiro tem um pouco", brinca.
Detalhamento. Conforme a pesquisa, apenas 27% dos entrevistados consideraram o prazo de marcação de consultas nos planos privados satisfatório. A maioria (54%) considerou regular, e 19% avaliou como ruim ou péssimo.
É o caso da artista plástica Claudete Ribeiro Campos da Cruz, 46, que já perdeu as contas de quantas vezes teve problemas para agendar dermatologistas e ginecologistas de sua confiança. "É muito ruim começar um tratamento com um médico e, na hora de voltar, só conseguir consulta para três meses depois. Acalx) desistindo e indo para outro, mas fico insegura", afirma Claudete.
Fonte: CFF