O Brasil do desperdício mostrado pelo Estado de Minas nos últimos dias, também chega aos hospitais e aos medicamentos consumidos em casa. O desleixo com medicamentos é preocupante. Todos os anos o brasileiro e o poder público juntos jogam na lixeira bilhões de reais com o descarte de produtos impróprios para o consumo. São medicamentos que vencem antes de serem consumidos. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam que o desperdício de medicamentos, incluindo os comprados no varejo pelos hospitais e pelo poder público, gira em torno de 20%. Considerando que o setor movimenta perto de R$ 65 bilhões ao ano, R$ 13 bilhões vão para o ralo.
A questão econômica esbarra no Projeto de Lei 7.029, de autoria do governo, que desde 2006 está tramitando no Congresso Nacional, atualmente na comissão de Constituição e Justiça. A lei tornaria obrigatório o fracionamento dos remédios, viabilizando o consumo de acordo com a necessidade. Decreto presidencial de 2006 já libera a venda fracionada mas a norma não pego. “Fabricar em frações com as informações necessárias à segurança na embalagem é possível e alguns laboratórios já fazem isso. Mas no geral a regra não vingou com prejuízos para o país”, diz Rilke Novato presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais (Sinfarmig-MG). Segundo ele, é comum o consumidor levar para casa 30 comprimidos quando precisaria de 20. “O restante ele joga fora ou repassa para outro usuário, o que é um risco grande à saúde.”
O tempo da educação
O desperdício no Brasil não se resume a perdas vultosas de dinheiro, a exemplo dos prejuízos estimados em R$ 1 trilhão ao ano com os gargalos de logística e falhas de planejamento. O país, que aspira uma cadeira entre as nações ricas, joga fora também oportunidades. O bônus demográfico, momento na história em que a maior parte da população está em idade de trabalhar, tem sido soterrado pelas nossas ineficiências. Os especialistas são unânimes: a omissão com o ensino e a capacitação pode tirar do Brasil uma chance única.
A pirâmide social deve favorecer o Brasil até 2030. A partir daí, a força de trabalho começa a envelhecer. Em 2040, teremos idosos demais para tomar conta e, se não aproveitarmos essa janela de oportunidade para resolver problemas na previdência e formar poupança robusta para os desafios futuros, o passivo social pode se tornar insustentável. “Parte desse bônus foi desperdiçado. Temos, na melhor das hipóteses, até 2040 para tirar proveito”, avalia José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Este momento é decisivo, pode mudar os nossos rumos”, ressalta José Matias-Pereira, professor da Universidade de Brasília (UnB).
A maioria das populações hoje ricas, aproveitou esse período para dar um salto rumo ao desenvolvimento. Chegaram a esse período da história com as reformas necessárias para colher os frutos do bônus demográfico, situação diferente da observada no Brasil. Aqui há desperdício da força de trabalho. “A palavra chave é produtividade. Se queremos mudar o perfil desse país, o trabalhador tem de ter um nível de produtividade elevado”, diz Matias-Pereira. Simão Silber, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), alerta que a situação é alarmante. O país reserva as piores vagas para os jovens, que são o público que deveria construir um Brasil melhor. “Grande parcela dos brasileiros sai da escola analfabeto funcional. É um nível de desinformação básica. Uma pessoa pouco treinada tem dificuldade de ter emprego produtivo, vai varrer rua.”
Fonte: Estado de Minas