Principal fonte de alegria para muitas pessoas, o chocolate não faz parte da vida da webdesigner Jhenifer de Souza, 23 anos: ela é alérgica a cacau.
“Minha mãe suspeitou quando notou que, sempre que eu comia chocolate, ficava com manchas vermelhas nos braços, no rosto e nas costas. O médico fez o teste e comprovou minha alergia”, conta. No fim de julho, no entanto, uma pesquisa publicada no periódico Science Translational Medicine sinalizou que a vida de pessoas como Jhenifer pode mudar. O estudo apontou a descoberta de uma falha genética que faria a proteína conhecida como Fator de Crescimento Transformante Beta (TGF-beta) se tornar a responsável por mudar o comportamento do sistema imunológico, causando várias alergias.
A partir daí, seria possível desenvolver medicamentos mais eficazes.
A promessa ainda deve levar tempo para produzir resultados. De acordo com o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Nelson Rosário Filho, da diretoria da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI), a descoberta é apenas uma gota d’água no oceano. “As alergias estão relacionadas a diversos genes, não apenas a um. Mesmo assim, é algo estimulante”, comenta. Herberto José Chong Neto, alergista, imunologista e professor de medicina da Universidade Positivo (UP), concorda. “Ainda é preciso investir em mais estudos para descobrir quais outros genes causam as reações alérgicas”, diz. “Por enquanto, os tratamentos que existem aproximam os alérgicos de uma vida livre das limitações impostas pela doença”, completa.
Tratamentos
Cada alergia requer um tratamento diferenciado que depende do tipo e da intensidade. “Em linhas gerais, há três passos que são tomados. O primeiro seria evitar sempre o que desencadeia a reação alérgica. Depois, usar medicamentos e, por último, vacinas específicas”, resume Rosário Filho. Entre os medicamentos, estão comprimidos, bombas ou sprays para tratar a asma e cremes e pomadas para a dermatite, por exemplo.
As popularmente conhecidas “vacinas” fazem parte de um tratamento que vem ganhando cada vez mais espaço. A “imunoterapia” ou “dessensibilização” consiste em oferecer ao indivíduo, de forma crescente, aquilo que provoca alergia, para que, com o tempo, ele se torne menos sensível àquela substância. “Esse método é especialmente importante quando alguém é alérgico a algum medicamento extremamente necessário para combater doenças, como o câncer”, destaca Chong. “Só que, mesmo assim, ninguém deixa de ser alérgico. O que acontece é uma pausa nos sintomas, já que passa a existir tolerância às substâncias”, acrescenta.
Não há idade para surgirem os sintomas
A funcionária pública Georgia Settanni, hoje com 32 anos, começou a se incomodar com os sintomas de uma alergia bastante comum quando tinha 16. “Meu rosto coçava o tempo todo. Cheguei a ficar com uma marca no nariz de tanto que o cocei”, conta. Diagnosticada com rinite, ela faz parte do grupo de pessoas que se “descobrem” alérgicas ao longo da vida. Segundo o alergista e imunologista Herberto José Chong Neto, a pessoa não se torna alérgica. “Todos nascemos com um perfil genético para desenvolver doenças que surgem conforme o ambiente nos direciona. As alergias requerem um gatilho para entrar em ação”, explica.
É importante se manter atento a sintomas para evitar, entre outras complicações, o choque anafilático, uma reação alérgica intensa que pode provocar a obstrução de vias aéreas e levar até a morte. As alergias mais comuns, as respiratórias, são facilmente identificadas. “No caso da rinite, sintomas como coriza persistente não acompanhada de febre e mal estar, coceira nasal e ocular e espirros repetitivos são indicativos importantes”, cita a pneumopediatra Débora Chong e Silva. “Já a asma é evidenciada pela tosse seca, pelo ‘chio no peito’ e pela falta de ar”, acrescenta.
A lista de sintomas de outros tipos de alergia é extensa: eventuais coceiras, lesões avermelhadas, urticária e inchaço em partes do corpo, como os lábios e as pálpebras podem indicar alguma hipersensibilidade. “É importante manter um sistema de vigilância permanente e tentar notar como seu corpo reage a diferentes alimentos, roupas e locais visitados”, ressalta o médico Nelson Rosário Filho, da diretoria da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI).